Vocês sofrem de alguma zica daquelas bem zicadas? Eu sofro de várias! Tem uma em particular que me persegue desde sempre. Não sei as pessoas comuns, mas eu estudei em colégio construtivista, daqueles que para tudo se faz roda para saber qual a opinião dos alunos. Nem estou falando mal porque amava meu colégio, depois de anos estudando em um nazo-fascista, minha mãe fez a caridade de me colar em uma instituição de ensino que tinha aula de artes na grade de horário e nós éramos incentivados a pichar a parede da escola. Claro que sempre tinha aquele grupo de alunos discípulos de Hitler, mas nem era esse o problema porque sempre andei e caguei pra essa gente. Meu problema de verdade eram os círculos de conversa, o que acabou virando uma maldição em minha vida. Explico. Todo mundo dava feliz da vida seu ponto de vista. Sempre fui tímida, mas sempre tive opinião sobre tudo. Enquanto meus coleguinhas falavam, em vez de prestar atenção no que eles diziam para depois discutirmos todos juntos, eu ficava elaborando minha resposta. Todos os argumentos possíveis para que a minha opinião fosse a que causasse mais impacto, a que abordasse um aspecto que ninguém tinha pensado e, de preferência, que fosse o oposto do que todos pensavam. Quando o amiguinho do lado estava quase encerrando sua fala meu coração começava a bater mais rápido, o rubor iniciava a queimar minhas faces, eu respirava bem fundo e quando ia abrir a boca para falar … Bum! Sempre era interrompida. O professor ou resolvia fazer uma explanação gigantesca sobre todos os comentários até aquele momento, a aula acabava e ele prometia começar na próxima aula a partir de mim – qual, desgracado nem lembrava mais da atividade na aula seguinte e mesmo assim eu passava a semana me preparando para dar a resposta, eita ingenuidade – ou a diretora entrava na sala, jogava uma bomba e lá se ia minha vez de falar; mas acima de tudo, o que me fazia carregar mais ódio no coração e querer que algum aluno grudasse chiclete no cabelo do professor (no meu colégio tinha muito prof homem, por isso a insistência no gênero masculino, ok, pode parar de reclamar!) porque eu jamais faria isso, era quando o desgraçado invertia a ordem do círculo. Ouvir as palavras: “agora vamos inverter e começar da fulana ou fulano”! Nossa que ódio, que raiva. Não tinha jeito. Eu sentava do lado do professor, ele começava pelos alunos do outro lado do círculo (no meu jeito de ver o mundo, círculo tem lado e pronto!); se eu levantava o braço, ele nunca me escolhia; se eu usasse de psicologia inversa e desviasse o olhar – tática daqueles que não querem ser escolhidos e por isso mesmo são sempre escolhidos – o escomungado me ignorava. Mas, como sempre digo, tudo pode piorar. E piorava quando o filho de uma égua olhava bem nos olhos e falava em alto e bom som: “Monica você já participou demais, deixe os outros falarem!!”. Mal eu tinha aberto a boca, nunca falava, sempre me pulavam! Mas deixe estar jacaré porque minha vingança viria quando ficasse adulta e passasse a ser ouvida pelo mundo todo. Doce ilusão. Ninguém liga! E até hoje, na minha vez de falar ou ser atendida em algum lugar, algo interrompe meu momento lúgubre. Em vez de eu amaldiçoar os profs construtivistas, o feitiço bateu no espelho e impregnou em mim mais forte que perfume barato! Oh dó!!!
Enquete: vai se tratar e para de encher; ninguém liga; é, se fudeu hahahaha!